quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Tecer versos é, por força, fazer sulcos em penedos,
Singrar as pedras todas do mar de si ao avesso,
Derramar suores em gotas no fero vigor do remo.
É ferir, à quilha da fragata, as artérias espumosas
Das altas internas vagas. É navegar por entre as rochas
E lapidar relevos pulcros em fendas pouco profundas.
É um árduo trabalho infruto, que só lega palmas sujas.
Abismadas em seu peito para juntá-las a outras
Iguais na casca e no meio, mesmo que estejam ocas.
Como fulcros ao poema e inertes todas deixá-las
Inativas pelas fendas — palavras amortalhadas.
Para que tu, só tu possas sugar o cerne dos versos
Acumulados em poças pelos teus olhares tétricos
Que desmineram as horas e se desmentem eternos.

mosaico primevo

Um comentário:

  1. Obrigado por ter publicado este meu poema no seu blog. Abraços, Abilio Pacheco.

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