Tecer versos é, por força, fazer sulcos em penedos,
Singrar as pedras todas do mar de si ao avesso,
Derramar suores em gotas no fero vigor do remo.
É ferir, à quilha da fragata, as artérias espumosas
Das altas internas vagas. É navegar por entre as rochas
E lapidar relevos pulcros em fendas pouco profundas.
É um árduo trabalho infruto, que só lega palmas sujas.
Abismadas em seu peito para juntá-las a outras
Iguais na casca e no meio, mesmo que estejam ocas.
Como fulcros ao poema e inertes todas deixá-las
Inativas pelas fendas — palavras amortalhadas.
Para que tu, só tu possas sugar o cerne dos versos
Acumulados em poças pelos teus olhares tétricos
Que desmineram as horas e se desmentem eternos.
mosaico primevo
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
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Obrigado por ter publicado este meu poema no seu blog. Abraços, Abilio Pacheco.
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